Mulheres e suas proibições
Mulheres e suas proibições
Você comeu chocolate? E agora? Dieta já! Cortar isso, cortar aquilo... Esse é um pensamento recorrente em nossos dias de ditadura do corpo perfeito e magérrimo. Os prazeres alimentares são sucedidos de punições. É um comportamento contemporâneo onde se observa uma migração da repressão dos prazeres sexuais para uma repressão dos prazeres alimentares.
A partir da transformação de certos paradigmas culturais, percebe-se que o discurso social tem produzido um deslocamento da sexualidade para a moral da alimentação. O pecado sexual da era vitoriana foi substituído pelo pecado alimentar. Com a liberação sexual a mulher conquistou o direito de viver sua sexualidade de modo integral, emancipada da proibição do prazer sexual. Atualmente as mulheres, novamente as mulheres, vêem-se frente a novas interdições, só que agora no plano alimentar. A interdição sexual foi sucedida pela interdição sobre o alimento. A recusa do prazer sexual cedeu lugar à recusa do prazer alimentar, que exige o sacrifício de resistir à tentação. Alguns alimentos são considerados proibidos e caso se caia em tentação há que se pagar uma expiação do pecado cometido, que pode ser através de um jejum, uma dieta restritiva ou horas de academia para compensar as calorias ingeridas.
A restrição alimentar pode funcionar como um castigo frente ao “pecado alimentar”. O grande perigo é que as restrições alimentares provocam um estado de estresse associado à preocupação e cuidado excessivo com o controle das calorias ingeridas. Além disso, após algumas tentativas de comer pouco ou nada, ocorre um incremento da fome podendo desencadear uma comilança em forma de um ataque descontrolado aos alimentos. Novo perigo: entrar no ciclo comilança-sentimento de culpa-autopunição.
Uma relação saudável com o corpo e com a comida vai depender de uma relação saudável consigo mesma que, por sua vez, decorre do autoconhecimento, da auto-estima e da autoconfiança.
Rosita Esteves
Psicanalista – CRP 07/02637